quinta-feira, 14 de abril de 2011

Mídia e Educação: os contornos do problema

Considerando o horizonte da sociedade atual, perfilado pela complexidade dos processos, das relações, das formas de vida, marcado pela fragmentação dos modelos de orientação teórica e prática; tendo em vista o papel da educação no tocante à intervenção e atuação responsável do homem no curso dessa sociedade; e vislumbrando o caráter plasmático das novas tecnologias, dada sua ingerência em todas as esferas do humano; em suma, levando-se em conta a complexa relação entre mídia, sociedade e educação, cumpre repensar a formação humana a partir de novas bases.

Ora, um dos elementos que pode nos auxiliar na busca de um melhor entendimento do papel da educação frente aos desafios do novo milênio consiste justamente na reflexão acerca da estreita relação entre mídias e educação. Como ressaltam José Marques de Melo e Sandra Pereira Tosta, na apresentação do livro Mídia & Educação, a interação entre a esfera da Comunicação e a esfera da Educação demanda uma melhor compreensão e, portanto, merece ser discutida com amplitude e profundidade, pois,

"se por um lado, são indiscutíveis a importância e presença física ou virtual dos meios de comunicação em todos os setores da vida social, por outro, e de não menos importância, reconhecemos o papel crucial que a educação tem no desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade" (MELO & TOSTA, p. 7).

Ora, quais os desafios a serem enfrentados pela Escola para que um uso integrado e pedagógico das mídias e das novas tecnologias se torne efetivo? Eis uma questão que vem sendo bastante discutida, mas para a qual ainda não encontramos, no mundo concreto, as soluções correspondentes para o problema nela implicado. Ainda há poucos exemplos de escolas que fazem um uso adequado das novas tecnologias.
Acreditamos que uma prática pedagógica, para ser conduzida de maneira eficiente e eficaz, competente e responsável, requer como condição de possibilidade, que o professor domine alguns elementos teóricos. 

É preciso, portanto, não apenas fluência tecnológica, mas consciência dos limites e possibilidades do uso pedagógico das novas tecnologias. Se, por um lado, a apropriação técnica dos recursos midiáticos é condição sine qua non para sua utilização; por outro, é importante que estejamos cientes dos desafios que essas inovações nos impõem, se desejamos reafirmar nossa função de educar – ou reeducar – nossos alunos para a cidadania, para a autonomia.

Nessa perspectiva, a utilização pedagógica das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) em geral, assim como o uso pedagógico do computador e das ferramentas que lhe são afins no espaço da escola, se impõem como um desafio a ser superado e uma tarefa a ser cumprida com ética e compromisso, pois estamos falando de educação, de formação de pessoas, de realização humana, da criação das condições para uma mudança substancial no curso da história tanto individual, quanto coletiva.

REFERÊNCIA:
1.                  MELO, José Marques de; TOSTA, Sandra Pereira. Mídia e Educação. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2008. (Coleção “Temas & Educação”).

sábado, 5 de março de 2011

HOMEM E NATUREZA: Uma relação conflituosa

Hodiernamente, vivemos uma tendência na esfera científica que se caracteriza pela aproximação entre o objeto de estudo da ciência e o sujeito produtor de ciência. Observamos que esse vínculo é cada vez maior e mais sólido. Nesse sentido, procuramos, aqui, encetar uma discussão relativamente à indissociabilidade entre sujeito (homem) e objeto (natureza). A problemática concernente à relação sujeito-objeto, no âmbito da investigação científica, e mais geralmente, no contexto da Epistemologia, revela-se central não só porque coloca em xeque os fundamentos do conhecimento científico, isto é, não tanto porque envolve aspectos teóricos, mas, sobretudo, porque envolve questões atinentes ao modo como o homem interage com o mundo de um ponto de vista prático. Daí a discussão atual a esse respeito, cujo princípio norteador reside no conceito de complexidade, se impor de maneira tão firme, visto que se trata do ser e do dever ser do homem tendo em vista a preservação de sua morada.

A sociedade na qual vivemos hodiernamente é "resultado da complexidade dos processos da natureza". Processos naturais estes que afetam tanto o mundo físico quanto o mundo propriamente humano, uma vez que o homem é parte da natureza. No entanto, na medida mesma em que participa do mundo natural, o ser humano o faz intervindo de maneira ativa no curso da Natureza, sendo sua atuação, por conseguinte, decisiva para delimitar o caráter complexo que hoje toma forma os processos naturais. Portanto, vale notar que, se os sistemas físicos e os sistemas sócio-econômicos, políticos e culturais se tornaram mais complexos, isso não significa que tais mudanças tenham acontecido naturalmente no sentido de se pensar que o mundo globalizado é produto de uma lei natural, do ordenamento determinado da natureza. Se fosse assim, teríamos que aceitar que tudo que ocorre no mundo obedece a uma fatal necessidade; e quanto a nós, não passaríamos de meras peças integrando a engrenagem do destino universal.

É preciso reconhecer que somos sujeitos e, como tais, agimos na e com a Natureza. Ora, se por um lado, somos seres naturais e vivemos na Natureza, submetidos, portanto, aos limites por ela impostos, adequando-nos às suas determinações; por outro, temos a potência e a liberdade de construirmos um mundo radicalmente distinto do mundo natural; assim, ultrapassamos os limites da esfera meramente animal e nos tornamos humanos ao construirmos um universo que leva nossa marca (cultura, história, política, sociedade). Nessa perspectiva, nossa ação na e com a natureza se dá no sentido de transformá-la, ajustando-a ao nosso modo próprio de ser. Dir-se-ia que o homem desterrou-se de sua morada e erigiu um lar próprio. No entanto, essa morada nova nunca esteve para além do mundo natural, isto é, o homem continua aclimatado no seu universo originário; ele permanece na Natureza interagindo com ela. Claro que, em função do desterro, essa interação nem sempre - ou quase nunca - se revelou sadia. Mas qual o preço a pagar por tal comportamento insubmisso? Qual o ônus que a Natureza cobrará pela ingratidão do seu filho pródigo? Perguntas que talvez ainda não comportem respostas definitivas. Ela, a Natureza, poderá nos perdoar ao tempo em que nós nos decidirmos pelo arrependimento e resolvermos "voltar para casa". Ocorre que talvez não seja uma questão de perdão e arrependimento, mas de justiça. E aí pagaremos pelo erro cometido, pois é justo dá a cada um o que lhe compete. E, nesse caso, é inevitável que o homem, no mínimo, reparará pelos "crimes cometidos" com a natureza. Mas por que seria inevitável? Porque simplesmente, considerando a teoria da complexidade, "os processos são irreversíveis". "A questão da irreversibilidade significa dizer, portanto, que o tempo existe na natureza - não sendo uma mera construção do pensamento humano - já que agora é possível cientificamente distinguir entre o passado e o futuro" (ELIA, Marcos. Metamorfoses da Ciência: uma breve história do movimento, p. 7).

É preciso reconhecer que, com o desenvolvimento acelerado das tecnologias da informação e da comunicação, redefiniu-se nossa percepção do espaço-tempo e - por que não? - o horizonte de ação do próprio homem foi redimensionado (do mundo real e natural para o universo virtual e artificial). Um tal contexto é concebido como que caracterizado pela complexidade: dos elementos , dos processos, das relações, dos resultados, etc. Compreender esse movimento é fundamental, mas requer que não sejamos ingênuos, porque refletir sobre ele nada mais é do que entrar na dinâmica complexa do jogo. "A teoria da complexidade é, assim, apenas umas das consequências na sociedade atual, que se reflete em uma metamorfose do pensamento filosófico e científico, desde os tempos socráticos até os dias de hoje" (MÓDULO DA DISCIPLINA "SEMINÁRIO INFORMÁTICA E SOCIEDADE", UNIDADE I, do Curso de Especialização “Tecnologias em Educação”, CCEAD/PUC-RIO, 2009-2010, p. 2).

Tomando a Cultura Ocidental - e, na mesma linha, a Ciência - como tributárias do pensamento grego, cujo traço é o logos, a ordem, a racionalidade transcendente do homem e imanente do mundo, podemos afirmar que, desde os gregos até os dias atuais, a relação sujeito-objeto vem se metamorfoseando: ora prevalecendo um elemento em detrimento do outro, ora se complementando, ora se fundindo. Mas antes de entrarmos nessa discussão, gostaria de citar umas luminosas palavras de Dostoiévski. Assim escreve o romancista russo: "tudo está ao alcance do homem e tudo lhe escapa, em virtude de sua covardia (...). Coisa curiosa a observar-se: que é que os homens temem acima de tudo? - O que for capaz de mudar-lhes os hábitos: eis o que mais o apavora (...)" (DOSTOIÉVSKI, 2010, p. 12). Espinosa, já no século XVII, dizia que a esperança e o medo são as causas das nossas superstições. "O medo", afirmou o filósofo, "é a causa que origina, conserva e alimenta a superstição" (ESPINOSA, 2003, p. 6).

Covardia, pavor, medo e superstição a partir dos quais o homem constrói seu mundo de regularidades, de homogeneidades, de identidades, buscando fugir do insólito, do heterogêneo, do transitório – “A ciência parece ser uma forma de escapar da realidade, fugir de um mundo caracterizado pelo egoísmo e pelo conflito” (PRIGOGINE, 2010, p.7). Diante das potências da natureza, a atitude originária do ser humano é de impotência, espanto e temor. Para camuflar essa sua fraqueza, ele nega sua feição natural. Implementa para a instabilidade do mundo uma ordem e uma estabilidade fictícias; para se sentir seguro instaura a identidade em detrimento da diferença, postula a unidade como síntese do diverso, cria o movimento contínuo, as relações regulares de causa e efeito entre os fenômenos, a circularidade ou a linearidade do tempo, inventa leis e as projeta na natureza, regula as próprias relações que se operam entre os homens. Em suma, o homem institui e edifica seu “lar humano” (religião, história, ciência, arte, política, etc) quando transcende seu caráter meramente natural. Doravante, poder-se-ia pensar que "tudo está ao seu alcance". Ecoa aí nas palavras de Dostoiévski a frase do arquiteto e humanista florentino Leon Battisti Alberti que dizia: “os homens podem fazer tudo, se quiserem” (citado por PRIGOGINE, 2010, p. 3). Ambos fazem eco ao dito atribuído a Protágoras, sofista grego contemporâneo de Sócrates, que afirmava: “o homem é a medida de todas as coisas”. Nessa direção, a animalidade concede espaço para o pleno desenvolvimento da racionalidade. Mera ilusão! Pois tal medida só é possível num mundo plasmado pela lógica, pela harmonia, pela ordem. Na verdade, tudo lhe escapa, porque seu mundo está assentado sobre um "fundo falso", sobre o medo e a covardia: medo do efêmero, do caótico, do ilógico e do irracional que vigora na natureza. De todo modo, é essa atitude antinatural que constitui o ser próprio do humano, é o emergir da racionalidade que o transforma em SUJEITO. E se é assim, o outro que não seja sujeito é sempre OBJETO. O poder e a segurança do homem, enquanto pura subjetividade, pura racionalidade, fundamentam-se no temor do objeto [natureza]. Isso porque a natureza é imprevisível, imersa na temporalidade e, por isso mesmo, irreversível. Assim, para garantir sua segurança e seu poder, o sujeito procura anular ou, no mais das vezes, dominar o objeto, de modo que este se constitua ao modo de ser próprio daquele.

Após essa digressão, consideremos os traços da relação sujeito-objeto de um ponto de vista estritamente epistemológico: 1. o sujeito pode ser determinado pelo objeto, e, portanto, nesse caso, conhecimento seria sinônimo de contemplação, descrição; 2. numa outra perspectiva, o objeto é determinado pelo sujeito [sintomático da ciência moderna, isto é, da ciência que se desenvolveu a partir do Séc. XVII – “Com efeito”, assinala Prigogine, “a palavra ‘ciência’ não foi usada com seu sentido atual antes do século XVII” (PRIGOGINE, 2010, p. 2)]. Nesse contexto, não é a natureza quem se mostra ao homem (sujeito do conhecimento), mas é este quem aplica àquela suas categorias subjetivas, reconstruindo (conhecendo) o objeto ao impor a ele tais as estruturas categoriais; aqui, o conhecimento poderia ser concebido como representação, visto que o objeto externo (diverso) apresenta-se às estruturas internas do sujeito, cuja operação se processa no sentido de reconstituir a unidade, ou melhor, no sentido de representá-lo enquanto síntese unificada do múltiplo; 3. também é possível assinalar uma cisão no sujeito, quando, então, este deixa ver sua face objetiva (penso aqui no advento das ciências humanas, quando o homem é ao mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento): a relação pauta-se, nesse contexto, por uma espécie de reconciliação do sujeito com seu duplo; no entanto, ainda há uma diferença, uma separação entre subjetividade e objetividade, pois basta lembrar do problema da fundamentação das ciências humanas – a questão é: “em que medida o conhecimento das chamadas ciências humanas, que tem como objeto o próprio sujeito humano enraizado em sua cultura, pode ser considerado um conhecimento objetivo?” Ora, não faria sentido perguntar pela objetividade das ciências humanas se não houvesse separação entre sujeito e objeto no plano epistemológico. 4. Por fim, pode haver uma espécie de fusão entre os dois elementos, isto é, sujeito e objeto não seriam mais dois elementos distintos, mas estariam fundidos numa só e mesma esfera.

A "fusão" - e não confusão - entre sujeito e objeto emerge a partir dos estudos de Claude Shannon, Jacque Monod e Ilya Prigogine (Cf. ELIA, 2010, pp. 8 e ss). Segundo Prigogine, “a ciência é a expressão de uma cultura” (PRIGOGINE, 2010, P. 2). Isso significa que a ciência é produto de um ser – o homem – imerso no fluxo mutável e dinâmico do mundo, pois o homem não é senão “ser-no-mundo”. Daí intervir na economia do conhecimento e da ciência elementos até então estranhos à pureza do saber científico: a paixão, o inconsciente, o irracional, a diferença. Longe de ser alguém que fica a observar estrelas do alto de uma torre, quer dizer, de um observatório, ou alguém que lida com a descrição do código genético de uma determinada bactéria na solidão do laboratório, ou ainda alguém que busca fórmulas para descrever a estrutura dos buracos-negros isolado numa sala de um Instituto de Pesquisas qualquer. Enfim, longe de isolar-se, o cientista faz parte da cultura, uma vez que ele e sua pesquisa são afetados pela política, pela economia, pelas instabilidades familiares do homem-cientista, pelas suas crenças, opiniões, pela sua formação, pelos seus medos, anseios e paixões. Mais ainda: é esse conjunto de fatores que determina a realidade da própria natureza, portanto, delimita o objeto da investigação científica. Se as questões da realidade da natureza são inseparáveis das questões relativas à condição humana (Cf. PRIGOGINE, 2010, p. 2), então, a ciência – esse diálogo do homem com a natureza – tem sempre a ver com a existência e a conservação da vida do homem. Sendo assim, sujeito e objeto, homem e natureza estão no mesmo barco e, por conseguinte, as consequências da relação entre um e outro atingem diretamente os destinos de ambos. A vida humana se aperfeiçoou com o desenvolvimento científico e tecnológico, aperfeiçoamento que se pautou numa relação de dominação do objeto (portanto, de si mesmo, tendo em vista a identidade sujeito-objeto). O esgotamento da natureza implica na iminente destruição da própria existência humana. Talvez a abordagem da Teoria da Complexidade intente ressalta justamente o fato de que a instabilidade, a incerteza, o caos, o conflito, a irracionalidade são marcas da nossa finitude e que, portanto, estabilidade, eternidade, harmonia, certeza são construtos da nossa racionalidade frágil e incapaz de enfrentar o drama do mundo. O mundo e o tempo não são ilusões como apregoavam Popper ou Bergson (Cf. PRIGOGINE, 2010, p. 9). O trágico é que o tempo existe e os acontecimentos são irreversíveis. Estamos condenados a ser livres e, nesse sentido, nossas escolhas sobre o que fazemos de nós, do mundo, do nosso tempo, são de nossa inteira responsabilidade. Somos responsáveis pela nossa existência atual e futura e pela existência atual e futura da natureza, pois homem e natureza estão entrelaçados, indissociavelmente ligados.



REFERÊNCIAS:

  1. CONTEÚDO DO MÓDULO DA DISCIPLINA "SEMINÁRIO INFORMÁTICA E SOCIEDADE", UNIDADE I, do Curso de Especialização “Tecnologias em Educação”, CCEAD/PUC-RIO, 2009-2010.
  2. ELIA, Marcos. Metamorfoses da Ciência: uma breve história do movimento. Texto complementar da Disciplina "Seminário: Informática e Sociedade", Unidade I, do Curso de Especialização “Tecnologias em Educação”, CCEAD/PUC-RIO, 2009-2010.
  3. PRIGOGINE, Ilya. Ciência, Razão e Paixão. Texto complementar da Disciplina "Seminário: Informática e Sociedade", Unidade I, do Curso de Especialização “Tecnologias em Educação”, CCEAD/PUC-RIO, 2009-2010.
  4. DOSTOIÉVSKI, Fiodor.Crime e Castigo [Parte I]. Trad. Rosário Fusco. São Paulo: Abril, 2010. ("Coleção clássicos” - Vol. I).
  5. ESPINOSA, Baruch de. Tratado Teológico-Político. Trad. Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

domingo, 29 de agosto de 2010

AS DROGAS E A EDUCAÇÃO:

DA NEGAÇÃO AO FAVORECIMENTO DE ALTERNATIVAS PARA A NOSSA JUVENTUDE.

Mário Jorge Oliveira Silva*

13/08/2010


Existe uma frase, de autor desconhecido, que diz que “A ociosidade é a mãe de todos os vícios”. Para mim é uma grande verdade que dentre outras reflexões, me leva sempre a pensar que para combater o uso de drogas é preciso que sejam oferecidas aos nossos jovens alternativas de ocupação do seu tempo livre. Pouco adianta falar, estampar em cartazes, em revistinhas, em out door, ou mesmo na televisão, a célebre frase “Diga não às drogas”, se não temos nada para propor em contrapartida como ação.

As drogas, ao serem ingeridas, provocam sensações “maravilhosas”. Sensações de bem estar, de prazer, de leveza do corpo. Segundo alguns, permitem até as pessoas “viajarem” sem sair do lugar. Claro que depois todos nós sabemos das grandes consequências para o nosso organismo e também sobre a rede de crimes que cercam o seu consumo. Mas como dizer aos nossos meninos que a droga não presta, que não é uma boa?

Precisamos dar respostas inovadoras para esse grave problema da nossa sociedade. Precisamos favorecer comportamentos elevados em nossa juventude com possibilidades que a permita ocupar o seu tempo livre com atividades que edifiquem o seu caráter e que propiciem o culto aos bons costumes.

A prática esportiva sistematizada, como ação efetiva dentro da escola é uma grande alternativa. Independentemente das aulas de educação física, pois como as demais matérias escolares devem tratar transversalmente o assunto, a formação das equipes escolares para competições intercolegiais e os jogos internos se constituem excelentes espaços de cultivo aos hábitos saudáveis.

Outro caminho que também pode ser percorrido pela escola para potencializar o tempo dos nossos jovens é o das artes. A música, a dança, as artes plásticas, o grafite e o teatro têm sido muito utilizados por algumas ONGs com resultados efetivos no favorecimento de uma vida com mais sentido para muitos jovens. Esses expedientes já estão sendo pensados por algumas escolas, embora ainda não tenhamos informações precisas sobre a sua implantação. Talvez nos falte investigar mais a fundo o fato. A notícia animadora é que muitas escolas estão inserindo em seus planejamentos ações práticas de como enfrentar essa situação e prevenir males maiores no futuro. São aquisições de materiais esportivos, de recursos tecnológicos, de
instrumentos musicais e de artefatos para trabalhar com as demais artes, além de insumos e equipamentos para trabalhar a preservação do meio ambiente, em particular com a coleta seletiva, reciclagem de lixo e implantação de hortas comunitárias. São iniciativas louváveis que precisam do apoio de todos nas comunidades escolares para que possamos garantir o que aqui estamos colocando como alternativa.

Aliado às alternativas de ocupação é preciso abrir também uma discussão sobre como os valores se estabelecem, sobre como esses balizadores da ação humana se edificam e se perpetuam na sociedade. A primeira coisa que precisamos fazer para iniciarmos esse processo é perguntando aos nossos alunos sobre o que eles valorizam, sobre o que para eles é importante e poder confrontar as suas idéias com valores que estão associados à formação do caráter, como a verdade, o amor, a paz, a ação correta e a não-violência. Esses valores são, segundo Marilu Martinelli, no livro “Aulas em transformação: o programa de educação em valores humanos”, fundamentos morais e espirituais da consciência humana e que portanto, precisam ser
debatidos e principalmente exercitados.

De certo que essa tarefa de ajudar essa garotada a construir um futuro melhor para ela não é da escola. Ela é “também” da escola. Contudo, toda a sociedade, principalmente a família, ocupa papel preponderante nessa empreitada. Porém cabe salientar que a escola é um espaço de convivência, de aprendizagem, de construção e ainda de elevação espiritual, como bem definiu Jacques Delors, em “Educação: um tesouro a descobrir”, e por isso, nós professores, precisamos conhecer melhor sobre o assunto e também nos sensibilizarmos para a descoberta de estratégias que possam garantir boas práticas. Lembremos que essa responsabilidade não é só nossa, mas que “também” é nossa. Pense nisso!

*Professor especialista em Gestão Estratégica e Qualidade e em Gestão da Criatividade

Mário Jorge Oliveira Silva


"Ame a todos, confie em poucos. Não seja injusto com ninguém."

William Shakespeare

sábado, 14 de agosto de 2010

O Século XXI e a Educação



Vivemos a era da informação e da comunicação, da sociedade globalizada, da sociedade do conhecimento – e do consumo. Em suma, vivemos em meio a um turbilhão de coisas que nos afetam, interferindo no nosso modo de conhecer, de agir, de pensar, de querer, no nosso modo de ser. O mundo contemporâneo oferece aos indivíduos uma massa gigantesca de informações ao mesmo tempo em que oportuniza a eles certos meios para acessá-la. O acesso à informação, em alguma medida, já não pode mais ser entendido como um problema de primeira ordem (in tese, dos PCs domésticos às LanHouses, qualquer um pode navegar na Internet e ter diante de si esse universo de sons, imagens, vídeos, textos, esse espectro quase ilimitado de informações). Evidentemente é preciso reconhecer que ainda há casos em que isso se constitui um entrave para o desenvolvimento humano em suas mais variadas manifestações – social, cultural, econômico, político. De todo modo, o maior desafio do presente não se define pela quantidade, mas pela qualidade. Ou seja, se por um lado há uma grande oferta de informações e uma variedade de meios de comunicação instados a disseminar e pulverizar esse conteúdo, por outro lado isso não significa que haja uma efetiva assimilação da boa informação, a qual se traduziria em conhecimento real. Portanto, entre o virtual-potencial e o real-efetivo, uma distância precisa ser vencida. Nesse sentido, poder-se-ia aqui afirmar, fazendo eco àquilo que assinalaram alguns estudiosos e pensadores, que cabe à Educação diminuir tal distância. Um registro basilar da concepção segundo a qual a educação deverá tomar uma posição privilegiada na dianteira da sociedade do conhecimento está presente num documento elaborado pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI - UNESCO, coordenado por Jacques Delors, o qual ficou conhecido como Relatório Delors. Assim relata o documento:

A educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro. Simultaneamente, compete-lhe encontrar e assinalar as referências que impeçam as pessoas de ficarem submergidas nas ondas de informações mais ou menos efêmeras que invadem os espaços públicos e privados e as levem a orientar-se para projetos individuais e coletivos (DELORS, 2010, p. 1-2)

Percebe-se, pelo exposto no texto acima, que é função da educação transmitir saberes, entenda-se: conhecimentos qualificados, significativos, no sentido de que a cultura geral deve nos servir para que ampliemos nosso horizonte de compreensão do mundo e de nós mesmos, ao mesmo tempo em que nos possibilite o aprofundamento dessa compreensão; dito de outro modo, a educação na Sociedade da Informação deve ser potencializadora do “aprender a aprender”. Também se verifica pela leitura do excerto que esta ampliação do horizonte cognitivo e compreensivo só constitui uma base, pois não basta ter à disposição uma mina inesgotável se não sabemos extrair dela o minério precioso. Por conseguinte, os mecanismos, as ferramentas, o traçado que nos orientará na exploração da mina também nos devem ser oportunizados pelo processo educativo. Como assinala Delors: “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele”. (DELORS, 2010, p. 2).

O importante, ao fim e ao cabo, é formar uma base sólida de competências e habilidades, aliando conhecimentos básicos e uma capacidade potencial de atualizar, aprofundar, enriquecer, enfim, aproveitar as ocasiões e os contextos para aprender e se adaptar à dinâmica de um mundo em constante transformação e que exige dos sujeitos flexibilidade e dinamismo (capacidade de aprender, e aprender a aprender), competência (saber-fazer), compromisso e interação (conhecer o outro, integrando-o a ele e formando uma rede social plasmada pela tolerância, o trabalho coletivo, o respeito mútuo, o cultivo de valores comuns), e autonomia (desenvolvimento da personalidade autônoma, tanto no que se refere ao conhecimento quanto à ação: a busca do crescimento pessoal deve partir do próprio indivíduo enquanto ser livre e capaz de se autogovernar, de escolher com responsabilidade seu próprio caminho). Se é assim, se os indivíduos são impelidos a desenvolverem esse conjunto de aprendizagens, então, será necessário se redefinir as bases daquilo que até então se entendeu por Educação. Como ressaltou Edgar Morin: “Há que se fazer uma total reorganização da educação.” (SÁTIRO, 2010, p.2). É nessa linha que o Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação do Século XXI estabelece os quatro pilares da educação contemporânea:

APRENDER A CONHECER
APRENDER A FAZER
APRENDER A VIVER JUNTOS
APRENDER A SER


REFERÊNCIAS:
DELORS, Jacques. Educação na Sociedade da Informação: o Relatório Delors. Texto complementar da Disciplina “Seminário Informática e Sociedade”, do Curso de Especialização Mídias em Educação, CCEAD-PUC-Rio, 2010.


SÁTIRO, Ângela. O Pensamento Complexo de Edgar Morin e sua Ecologia da Ação. Texto complementar da Disciplina “Seminário Informática e Sociedade”, do Curso de Especialização Mídias em Educação, CCEAD-PUC-Rio, 2010.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ADIAMENTO



Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... 
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, 
E assim será possível; mas hoje não... 
Não, hoje nada; hoje não posso. 
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, 
O sono da minha vida real, intercalado, 
O cansaço antecipado e infinito, 
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... 
Esta espécie de alma... 
Só depois de amanhã... 
Hoje quero preparar-me, 
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte... 
Ele é que é decisivo. 
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... 
Amanhã é o dia dos planos. 
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo; 
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... 
Tenho vontade de chorar, 
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro... 

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. 
Só depois de amanhã... 
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana. 
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... 
Depois de amanhã serei outro, 
A minha vida triunfar-se-á, 
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático 
Serão convocadas por um edital... 
Mas por um edital de amanhã... 
Hoje quero dormir, redigirei amanhã... 
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância? 
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã, 
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo... 
Antes, não... 
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. 
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser. 
Só depois de amanhã... 
Tenho sono como o frio de um cão vadio. 
Tenho muito sono. 
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... 
Sim, talvez só depois de amanhã...
ÁLVARO DE CAMPOS